O Papel da Manipulação Osteopática no Tratamento da Pneumonia: Uma Análise Profunda para Fisioterapeutas

Escrito por Dr. Bruno Moreno (D.O.) | @brunogdmoreno

A pneumonia continua sendo uma das principais causas de hospitalização e mortalidade em todo o mundo, especialmente entre a população idosa. Embora a antibioticoterapia seja o pilar do tratamento, a crescente resistência bacteriana e a necessidade de otimizar os resultados clínicos incentivam a busca por terapias adjuvantes eficazes. Nesse contexto, o Tratamento Manipulativo Osteopático (TMO) surge como uma abordagem promissora, com raízes históricas que remontam à era pré antibióticos.

Um estudo fundamental para a nossa discussão é o ensaio clínico randomizado e multicêntrico “Efficacy of osteopathic manipulation as an adjunctive treatment for hospitalized patients with pneumonia” (MOPSE), publicado por Noll et al. Este estudo investigou os efeitos do TMO em pacientes com 50 anos ou mais hospitalizados com pneumonia e seus achados, quando analisados detalhadamente, oferecem insights valiosos para fisioterapeutas e osteopatas.

Principais Achados do Estudo MOPSE

O estudo MOPSE dividiu 406 pacientes em três grupos: um que recebeu apenas o tratamento convencional (CCO), um que recebeu um tratamento de toque leve (LT – placebo) e um terceiro que recebeu o Tratamento Manipulativo Osteopático (OMT) por 15 minutos, duas vezes ao dia.

A análise principal, chamada de “intenção de tratar” (ITT), que inclui todos os participantes randomizados, não encontrou diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. No entanto, a história muda quando olhamos para a análise “por protocolo” (PP), que considera apenas os pacientes que seguiram rigorosamente o tratamento proposto. Nesta análise, os resultados foram notáveis:

  • Redução do Tempo de Internação (LOS): O grupo que recebeu TMO teve uma mediana de tempo de internação de 3,5 dias, em comparação com 4,5 dias do grupo de tratamento convencional. Isso representa uma redução de um dia inteiro de hospitalização.
  • Menor Duração de Antibióticos Intravenosos: O grupo TMO também precisou de menos tempo de antibioticoterapia intravenosa.
  • Redução de Mortalidade e Falência Respiratória: De forma significativa, a incidência de morte ou falência respiratória foi menor no grupo TMO em comparação com o tratamento convencional.

Esses achados sugerem que, quando o TMO é administrado de forma consistente, ele pode trazer benefícios clínicos substanciais, acelerando a recuperação e melhorando desfechos graves.

As Técnicas e Seus Mecanismos Fisiológicos

O protocolo de TMO do estudo MOPSE incluiu técnicas que são familiares a muitos fisioterapeutas e osteopatas, focadas em melhorar a função respiratória e a circulação linfática. Entre as principais, destacam-se:

  • Elevação de Costelas (Rib Raising): Esta técnica articular visa melhorar a mobilidade da caixa torácica e das costelas. Ao fazê-lo, não só facilita a expansão pulmonar, mas também pode modular o sistema nervoso autônomo, diminuindo o tônus simpático hiperativo, comum em quadros infecciosos.
  • Bomba Linfática (Lymphatic Pump): As técnicas de bombeio linfático, tanto torácico quanto pedial, são projetadas para aumentar o fluxo da linfa. A melhora da circulação linfática é crucial, pois acelera a remoção de resíduos inflamatórios e facilita o transporte de células imunes para o local da infecção, otimizando a resposta do corpo ao patógeno. Estudos em animais sugerem que o bombeio linfático pode aumentar a eficácia dos antibióticos.
  • Liberação Miofascial do Diafragma: O “doming” do diafragma busca liberar restrições e melhorar a excursão deste músculo, que é o principal motor da respiração. Uma função diafragmática otimizada melhora a ventilação e a capacidade pulmonar.

Sinergia com a Fisioterapia Respiratória

Os objetivos do TMO na pneumonia são sinérgicos aos da fisioterapia respiratória convencional. Ambos buscam melhorar a higiene brônquica, otimizar a ventilação pulmonar, reduzir o trabalho respiratório e prevenir complicações como atelectasias. Técnicas de mobilização precoce, exercícios respiratórios e de fortalecimento muscular são pilares da fisioterapia que, quando combinados com as manipulações osteopáticas, podem oferecer um plano de tratamento ainda mais robusto e integrado.

Conclusão para a Prática Clínica

O estudo de Noll et al., reforçado por outras pesquisas, fornece evidências importantes de que o Tratamento Manipulativo Osteopático é mais do que apenas um “toque terapêutico”. É uma intervenção com mecanismos fisiológicos plausíveis que, como tratamento adjuvante, pode reduzir o tempo de internação, o uso de antibióticos IV e, mais criticamente, a mortalidade em pacientes com pneumonia.

Para o fisioterapeuta, integrar técnicas osteopáticas ao plano de cuidados de pacientes com pneumonia, especialmente os idosos, representa uma oportunidade valiosa de potencializar os resultados clínicos. Em uma era de desafios crescentes na saúde, abordagens que são seguras, eficazes e que otimizam a capacidade inata de recuperação do corpo devem estar na vanguarda da nossa prática.

Referências e Leitura Adicional

  • Noll, D. R., Degenhardt, B. F., Morley, T. F., Blais, F. X., Hortos, K. A., Hensel, K., … & Stoll, S. T. (2010).Efficacy of osteopathic manipulation as an adjunctive treatment for hospitalized patients with pneumonia: a randomized controlled trial. Osteopathic Medicine and Primary Care, 4(1), 1-13.
  • Hodge, L. M. (2012). Osteopathic lymphatic pump techniques to enhance immunity and treat pneumonia. International Journal of Osteopathic Medicine, 15(1), 13-21.
  • Yao, S., et al. (2014). Osteopathic manipulative treatment as a useful adjunctive tool for pneumonia. Journal of visualized experiments: JoVE, (87).
  • Análise da American Osteopathic Association sobre a redução do tempo de internação e mortalidade.
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