Osteopatia na Saúde da Mulher: Evidências Científicas e Benefícios Comprovados em Ginecologia e Obstetrícia

Escrito por Dr. Bruno Moreno (D.O.) | @brunogdmoreno

Introdução: Revolucionando o Cuidado da Saúde Feminina com Osteopatia

A saúde da mulher é um universo complexo e multifacetado, que abrange desde a adolescência até a maturidade, passando por ciclos e transformações que impactam profundamente o bem-estar físico e emocional. Em meio a tantas mudanças, a busca por abordagens terapêuticas eficazes e seguras é uma constante. Nesse cenário, a osteopatia surge como uma poderosa aliada, oferecendo um tratamento manual, não invasivo e centrado na capacidade inata do corpo de se autorregular e curar.

Este artigo, destinado a fisioterapeutas, osteopatas e todas as pessoas interessadas em uma abordagem mais completa da saúde feminina, explora as evidências científicas que sustentam o uso do Tratamento Manipulativo Osteopático (OMT) em ginecologia e obstetrícia. Baseado em uma revisão sistemática da literatura e em estudos complementares, vamos mergulhar nos benefícios, mecanismos de ação e na segurança dessa prática, destacando seu potencial para transformar a qualidade de vida das mulheres em diferentes fases da vida.

O que é a Osteopatia e Como Ela Atua?

A osteopatia é uma abordagem de saúde que se baseia em quatro princípios fundamentais:

  1. O corpo é uma unidade: Mente, corpo e espírito estão interligados e funcionam como um todo.
  2. O corpo tem capacidade de autorregulação e autocura: O organismo possui mecanismos inatos para manter a saúde e se recuperar de doenças.
  3. A estrutura governa a função: A forma como o corpo está estruturado afeta diretamente sua capacidade de funcionar corretamente.
  4. O tratamento racional baseia-se nos três princípios anteriores: A terapia osteopática busca remover as barreiras que impedem o corpo de se curar, restaurando a harmonia entre estrutura e função.

Através de uma variedade de técnicas manuais, como a mobilização articular, a manipulação de tecidos moles, a liberação miofascial e as técnicas craniossacrais, o osteopata busca identificar e corrigir as chamadas “disfunções somáticas”. Essas disfunções são alterações na mobilidade e na textura dos tecidos corporais que podem afetar não apenas o sistema musculoesquelético, mas também o funcionamento dos órgãos internos, através de reflexos somato-viscerais e víscero-somáticos.

Ao restaurar a mobilidade e o equilíbrio do corpo, a osteopatia promove a melhora da circulação sanguínea e linfática, a otimização da função nervosa e o reequilíbrio do sistema nervoso autônomo, criando um ambiente propício para a saúde e o bem-estar.

As Evidências Científicas da Osteopatia na Saúde da Mulher

Uma revisão sistemática publicada em 2016 na revista Complementary Therapies in Medicine por Ruffini et al. [1] e atualizada em 2022 na revista Healthcare [2], analisou os estudos disponíveis sobre a eficácia do OMT em diversas condições ginecológicas e obstétricas. Os resultados, embora heterogêneos, apontam para um futuro promissor e reforçam o papel da osteopatia como uma abordagem complementar segura e eficaz.

Gravidez: Alívio da Dor e Melhora da Função

A gestação é um período de intensas transformações no corpo da mulher, e a dor lombar e pélvica é uma queixa comum, afetando uma grande parcela das gestantes. A revisão de estudos mostrou que o Tratamento Manipulativo Osteopático é eficaz na redução da dor e na melhora da função das costas durante a gravidez, quando comparado aos cuidados habituais.

Além disso, um estudo de caso demonstrou o potencial da osteopatia em uma gravidez gemelar de alto risco, com melhora dos parâmetros de fluxo sanguíneo e bem-estar materno-fetal. Outro achado interessante foi a redução significativa da duração do trabalho de parto em mulheres acompanhadas por obstetras com formação em osteopatia.

Pós-parto: Recuperação e Bem-Estar

O período pós-parto, também conhecido como puerpério, é uma fase de recuperação e adaptação. A osteopatia pode ser uma grande aliada nesse processo, auxiliando na recuperação de disfunções decorrentes da gestação e do parto.

Estudos demonstraram melhoras significativas na dor e na incapacidade em mulheres no pós-parto que receberam tratamento osteopático. Além disso, a osteopatia mostrou-se eficaz no tratamento de condições como o aprisionamento do nervo pudendo, uma causa comum de dor pélvica crônica.

Dismenorreia e Endometriose: Alívio da Dor e Melhora da Qualidade de Vida

A dismenorreia (cólica menstrual) e a endometriose são condições que podem causar dor intensa e impactar significativamente a qualidade de vida. A revisão de estudos apontou para melhoras consistentes na dor em mulheres com essas condições que foram tratadas com osteopatia. Embora mais pesquisas sejam necessárias para estabelecer protocolos de tratamento, os resultados são promissores e sugerem que a osteopatia pode ser uma opção terapêutica valiosa para o manejo da dor ginecológica.

Menopausa e Infertilidade: Um Campo em Exploração

As evidências sobre a eficácia da osteopatia na menopausa e na infertilidade ainda são limitadas. No entanto, alguns estudos sugerem que o OMT pode ajudar a reduzir a frequência e a intensidade das ondas de calor e melhorar os sintomas psicossomáticos associados à menopausa. Em relação à infertilidade, um estudo mais antigo apontou para uma taxa de concepção de 60% em mulheres com infertilidade secundária e idiopática tratadas com osteopatia, mas a revisão mais recente não encontrou novas publicações sobre o tema.

A Integração da Osteopatia com a Fisioterapia Pélvica

A fisioterapia pélvica é outra área de atuação fundamental na saúde da mulher, com fortes evidências científicas que comprovam sua eficácia no tratamento de disfunções do assoalho pélvico, como incontinência urinária, dor pélvica e disfunções sexuais.

A integração da osteopatia com a fisioterapia pélvica oferece uma abordagem ainda mais completa e holística, unindo o conhecimento da biomecânica global do corpo com o foco específico na função do assoalho pélvico. Essa colaboração entre profissionais pode otimizar os resultados terapêuticos e proporcionar um cuidado de excelência para a mulher em todas as fases da vida.

Segurança e Recomendações

Um dos pontos de destaque da revisão sistemática é a segurança do tratamento osteopático. A grande maioria dos estudos não relatou efeitos adversos, e os poucos que o fizeram descreveram apenas desconfortos leves e transitórios. Isso reforça a osteopatia como uma abordagem segura para gestantes, puérperas e mulheres com outras condições ginecológicas.

No entanto, os autores da revisão ressaltam a necessidade de mais estudos de alta qualidade, com metodologias rigorosas e uma descrição detalhada das intervenções, para que se possam estabelecer recomendações clínicas mais precisas.

Conclusão: Um Convite à Prática Baseada em Evidências

As evidências científicas, embora ainda em desenvolvimento, apontam para um papel cada vez mais relevante da osteopatia na saúde da mulher. Para fisioterapeutas e osteopatas, este é um convite para aprofundar o conhecimento, aprimorar as habilidades e integrar essa abordagem em sua prática clínica, sempre com base nas melhores evidências disponíveis.

Para as mulheres, este é um convite para conhecer e buscar tratamentos que olhem para o corpo de forma integrada, que respeitem sua individualidade e que promovam a saúde e o bem-estar de forma natural e segura. A osteopatia, em conjunto com a fisioterapia e outras abordagens de saúde, tem o potencial de transformar a vida de muitas mulheres, aliviando dores, restaurando funções e devolvendo a alegria de viver em plenitude.

Referências

  • [1] Ruffini, N., D’Alessandro, G., Cardinali, L., Frondaroli, F., & Cerritelli, F. (2016). Osteopathic manipulative treatment in gynecology and obstetrics: A systematic review. Complementary Therapies in Medicine, 26, 72–78. https://doi.org/10.1016/j.ctim.2016.03.005
  • [2] Ruffini, N., D’Alessandro, G., Pimpinella, A., Galli, M., Galeotti, T., Cerritelli, F., & Tramontano, M. (2022). The Role of Osteopathic Care in Gynaecology and Obstetrics: An Updated Systematic Review. Healthcare (Basel, Switzerland), 10(8), 1566. https://doi.org/10.3390/healthcare10081566
  • [3] Roberts, A., Harris, K., Outen, B., Bukvic, A., Smith, B., Schultz, A., Bergman, S., & Mondal, D. (2022). Osteopathic Manipulative Medicine: A Brief Review of the Hands-On Treatment Approaches and Their Therapeutic Uses. Medicines (Basel, Switzerland), 9(5), 33. https://doi.org/10.3390/medicines9050033

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