Osteopatia e Bexiga Hiperativa: Evidências para o Manejo Funcional dos Sintomas Urinários

Escrito por Dra. Angélica Ferrari | @angelicaferrariv

Introdução

A bexiga hiperativa, também chamada de síndrome da bexiga irritável, é uma condição caracterizada por urgência urinária, aumento da frequência miccional, noctúria e, muitas vezes, incontinência urinária de urgência. Estima-se que afete até 17% da população adulta, com grande impacto na qualidade de vida, autoestima e relações sociais.

Embora os tratamentos farmacológicos sejam amplamente utilizados, eles apresentam limitações, como baixa adesão e efeitos colaterais. Nesse contexto, a osteopatia surge como abordagem manual complementar, voltada para restaurar a mobilidade visceral, modular o sistema nervoso autônomo e reduzir sintomas urinários.

O que dizem os estudos recentes

  • Müller et al. (2014) investigaram os efeitos do tratamento osteopático em mulheres com bexiga hiperativa. O protocolo incluiu técnicas de mobilização visceral pélvica, liberação de fáscias da pelve menor, manipulação do sacro e abordagens do assoalho pélvico. Os resultados mostraram redução significativa da frequência urinária e da urgência, além de melhora na qualidade de vida reportada pelas pacientes.
  • Lotfi et al. (2023) realizaram uma revisão sobre a efetividade da osteopatia em distúrbios urológicos funcionais. Entre os principais achados, destacam-se a diminuição dos episódios de incontinência e o efeito positivo sobre a regulação autonômica vesical, evidenciando que a osteopatia pode ser uma ferramenta promissora no manejo conservador da bexiga hiperativa.

Como a osteopatia pode atuar na bexiga hiperativa

Os mecanismos propostos para explicar os efeitos observados incluem:

  • Liberação das fáscias pélvicas e vesicais, favorecendo a mobilidade da bexiga e a função dos ligamentos de suporte;
  • Influência sobre o sistema nervoso autônomo, especialmente na modulação do tônus parassimpático (responsável pela contração vesical) e simpático (responsável pelo enchimento da bexiga);
  • Integração do assoalho pélvico, reduzindo hiperatividade muscular e favorecendo coordenação entre contração e relaxamento;
  • Efeitos indiretos sobre o diafragma e cavidade abdominal, otimizando pressões internas e melhorando a função vesical.

Aplicabilidade clínica

Para fisioterapeutas e osteopatas, os resultados indicam que a osteopatia pode ser integrada como parte de um plano terapêutico mais amplo para pacientes com bexiga hiperativa. Isso pode incluir:

  • Avaliação detalhada da mobilidade visceral pélvica e do assoalho pélvico;
  • Aplicação de técnicas osteopáticas viscerais e sacrais em conjunto com exercícios de controle miccional;
  • Acompanhamento multiprofissional, em especial quando há associação com fatores psicológicos ou metabólicos;
  • Estratégias educativas que orientem o paciente sobre hábitos miccionais saudáveis.

Conclusão

A osteopatia se apresenta como uma abordagem segura e potencialmente eficaz no manejo da bexiga hiperativa, com benefícios reportados tanto na redução da urgência e frequência urinária quanto na melhora da qualidade de vida.

Embora mais estudos clínicos randomizados sejam necessários para consolidar sua eficácia, as evidências já apontam a osteopatia como aliada importante para fisioterapeutas e profissionais da saúde que atuam com disfunções uroginecológicas.

Referências

  1. Müller A, Franke H, Resch KL, Fryer G. Effectiveness of osteopathic manipulative therapy for managing symptoms of overactive bladder: a systematic review. J Am Osteopath Assoc. 2014;114(6):470-479.
  2. Lotfi C, Blair J, Jumrukovska A, et al. Effectiveness of osteopathic manipulative treatment in treating symptoms of overactive bladder: a literature review. Cureus. 2023;15(7):e42393.
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