Escrito por Dra. Angélica Ferrari | @angelicaferrariv
Introdução
A vertigem é um dos sintomas mais incapacitantes relacionados ao sistema vestibular, afetando até 20% da população adulta anualmente. Associada a distúrbios de equilíbrio, tontura e impacto funcional significativo, a vertigem pode ter causas periféricas (como a vertigem posicional paroxística benigna e a doença de Ménière) ou centrais.
Nos últimos anos, a osteopatia tem se mostrado uma alternativa promissora, especialmente quando há associação com disfunções somáticas cervicais e desequilíbrios musculoesqueléticos que contribuem para o quadro. Mas afinal, como o tratamento manipulativo osteopático pode ajudar pacientes com disfunções vestibulares?
O que dizem os estudos recentes
- Fraix et al. (2021) conduziram um estudo randomizado e controlado comparando quatro grupos: OMT isolado, reabilitação vestibular (VRT), OMT associado à VRT e grupo controle.
- O OMT utilizou técnicas como counterstrain, liberação miofascial, tensão ligamentar balanceada, técnicas de tecidos moles, HVLA e articulações.
- Os resultados mostraram que tanto o OMT isolado quanto o combinado à VRT promoveram melhora significativa na escala Dizziness Handicap Inventory (DHI) e nos escores de equilíbrio medidos pela posturografia dinâmica.
- A combinação OMT + VRT apresentou os melhores resultados a longo prazo, sugerindo sinergia entre terapias manuais e exercícios vestibulares.
- Outros trabalhos clínicos reforçam que a osteopatia pode atuar na normalização da função cervical e craniana, impactando a propriocepção e a integração sensorial, elementos centrais para a estabilidade postural e a recuperação vestibular.
Como a osteopatia atua no sistema vestibular
O efeito positivo do OMT em pacientes com vertigem e desequilíbrios posturais pode ser explicado por diferentes mecanismos:
- Modulação proprioceptiva cervical: melhora da aferência dos mecanorreceptores cervicais, reduzindo o conflito sensorial entre visão, sistema vestibular e sistema somatossensorial.
- Influência no sistema nervoso autônomo: técnicas craniossacrais e de tecidos moles podem equilibrar a atividade simpática e parassimpática, contribuindo para a regulação vestibular.
- Aprimoramento da função ocular: o estudo de Fraix et al. também observou melhora na acuidade visual monocular e redução de disfunções oculomotoras, como heteroforia vertical e insuficiência de convergência, fatores frequentemente associados à vertigem.
Aplicabilidade clínica
Para fisioterapeutas e osteopatas, esses achados reforçam a importância de:
- Avaliar disfunções cervicais e somáticas em pacientes com vertigem persistente;
- Integrar técnicas osteopáticas específicas (liberação miofascial, HVLA, técnicas cranianas e articulações cervicais) ao protocolo clínico;
- Considerar o uso combinado de osteopatia e reabilitação vestibular, potencializando os ganhos funcionais;
- Valorizar a avaliação interdisciplinar, incluindo fisioterapeutas vestibulares, otorrinolaringologistas e optometristas.
Conclusão
A osteopatia surge como uma abordagem promissora e segura no manejo de pacientes com disfunções vestibulares, especialmente quando associada à reabilitação vestibular tradicional. Os estudos apontam para melhorias significativas no equilíbrio, redução da vertigem e até benefícios visuais, ampliando as perspectivas de cuidado integral.
Embora sejam necessários ensaios clínicos com maior amostra, a prática atual já indica que a osteopatia pode ser um recurso valioso e complementar no arsenal terapêutico para pacientes com vertigem e alterações vestibulares.
Referências
- Fraix M, Gordon A, Gamber R, et al. Osteopathic manipulative treatment combined with vestibular rehabilitation for patients with dizziness: a randomized controlled trial. Front Neurol. 2021;12:675139.
- Triano J, et al. Osteopathic manipulative treatment and vestibular dysfunction: a clinical perspective. J Am Osteopath Assoc. 2020;120(8):567–75.
- Brandt T, Dieterich M. The vestibular system: anatomy, physiology, and clinical disorders. Handb Clin Neurol. 2016;137:1–16.